domingo, 3 de outubro de 2010

095 Depressão Pós-Parto



Quando eu ouvia falar em "depressão pós-parto", achava que fosse mais uma das reações exageradas da nossa "geração do conforto", em que qualquer coisinha já é um problemão.

Mas vi que tem mães por aí que passam de fato por um período ruim, de certo porque o nascimento seria aquele baque do "e agora, como é que vou manter essa criança com um pai vagabundo desse ?". Nesse sentido nunca achei que a Tutu teria sérios motivos pra ficar triste, porque o pai é esforçadinho e além do mais a família toda está ajudando bastante.

Mas se realmente a depressão pós parto é uma coisa que se repete sempre, deve ter algum propósito evolutivo. Um livro que eu li há tempos, sobre ciência cognitiva, diz que a depressão pós-parto seria o estado psicológico necessário para que a mãe possa avaliar, friamente, se a criação do filho realmente vale a pena - ou se é melhor desistir da cria e tentar gerar outros que tenham mais chance de sucesso. Faz todo o sentido em termos darwinianos, e provavelmente é parte da verdade.

Mas não se assuste com a frieza desta constatação. Raramente a razão evolucionária é a razão pela qual agimos. Quer dizer, mesmo que um comportamento seja recorrente por trazer alguma vantagem evolutiva, os indivíduos por sua vez são impelidos por motivos bem menos amplos do este. É por isso que para gerar filhos não temos uma vontade louca de fazer filhos, mas sim uma vontade louca de fazer sexo.

Assim, mesmo que a depressão pós-parto na escala da biologia sirva para que a mãe avalie friamente a viabilidade do recém-nascido, na escala psicológica a razão pode ser outra. A mãe chora por algum motivo, um motivo meio sem lógica alguém pode dizer. E se a gente entende pouco pode dizer que é mesmo somente químico.

Mas a Tutu esteve chorosa esses dias e era um choro bem profundo, que nem ela soube explicar. Só disse que olhava o Henrique passar de mão em mão, e às vezes chorar, e dava uma pena imensa dele, como uma impotência. É ver aquela criança ter que se virar sozinha, ter que aprender sozinha tudo o que a mãe já sabia e já estava cuidando de suprir quando ele estava na barriga. Ela quis voltar no tempo e pôr o neném de volta, e isso é mesmo uma baita duma tristeza. Pra mim, como pai, a chegada do Henrique é só alegria mas pra mãe é um ganho e uma perda ao mesmo tempo.

Uma grande energia psicológica é necessária pra passar essa barreira. Dá pra dizer que a depressão pós-parto - no sentido em que me refiro aqui - é um "rito de passagem". Como aqueles ritos ancestrais onde o adolescente caminha sobre a brasa para se tornar um adulto, é uma dose de sofrimento que te credencia para o que há por vir. O rito de passagem da mãe depois do parto deve cristalizar na sua mente que o filho, a partir de então, terá a sua própria vida - suas alegrias e suas tristezas. O Henriquinho vai seguir o caminho dele.

Falei pra Tutu que tem mãe que não quer passar por isso e insiste, inconscientemente, em tratar o filho como um dependente seu até a idade adulta. Então é bom a Tutu chorar, por que esse é o caminho saudável da coisa, com um pouquinho de sofrimento - até o Henrique já está aprendendo que é assim.

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2 comentários:

Anônimo disse...

Meus queridos,
Depressão pôs-parto existe mesmo... É real e dói tanto!!!
Tenho ate hoje, com a Luiza com 3 meses...
E tomo remédio desde quando ela tinha10 Dias para me ajudar a passar por isso (q é preciso)...

Lu, vc não precisa sofrer tanto viu? Fala com sua medica sobre isso! Tem diversas maneiras de aliviar um pouco esse "rito de passagem" - como o Felipe mesmo disse.

Adoro vcs!
Bjos,
Dri

Lili disse...

Tutu, é bem verdade q essa depressão existe, e deixa a gente MUITO sofrida... mas, calma,viu?Graças a Deus, vc não é a 1ª, e não será a última, e pode ter certeza, q VAI passar, mesmo!! E pelo q o Felipe escreveu aki, a sua tende a passar mais rápido, pq com um marido desses do seu lado, td acaba ficando mais fácil...
É, Tutuzinha.....ser mãe tem uns pedacinhos meio difíceis e complicados, mas tenha certeza q tudo vale MUITO a pena!!! Adoro vcs, e coragem, viu? Fica com Deus!